Eram três horas da manhã, em uma casa velha, no meio do nada, de um lado alguns capins até certo ponto altos, e do outro além dos capins, uma trilha de terra que levava para algum outro caminho onde o destino final era a praia. O vento batia forte sobre a velha casa de madeira, de modo que aparentemente chegava a balançar, vinha uma ventania forte por aí, o céu, ainda que nublado, aparentava ser lindo, de uma cor duvidosa entre roxo e rosa, que poderia até passar a impressão de que essa noite choveria, a casa parecia se mover não pela força que o vento impunha, mas se movia junto ao vento, como uma dança suave de ir e ficar, mas não retirar a base, e tudo estava escuro dentro daquela casa, o silêncio aniquilava a sensação de conforto, e trazia consigo o desespero de estar tudo caminhando para um desastre catastrófico que aconteceria graças a ventania. Tudo estava escuro naquela casa, menos o quarto...
Um velho homem adentra um quarto minúsculo, passando pela porta de madeira que nem sequer tinha mais a maçaneta, a passagem era estreita para quaisquer pessoa com mais de 1,70 cm, ao lado da porta uma rede que cruzava o quarto, uma rede roxa e amarela, de tão velha não aparentava nem sequer ter essa mistura de cores chamativas, a rede era ligada por um arco preso na parede perto da porta e outro perto da janela que não tinha sequer como ser fechada, pois ali havia apenas o buraco de modo que a noite fazia muito frio ali dentro, ao lado da janela, uma unica cadeira perto de uma mesinha pequena de madeira simples, já mordida nas pernas por alguns roedores, em cima da mesa duas velas e uma caneca com água, e colada a mesa o ultimo móvel do quarto, um velho armário com apenas uma porta colocada de modo correto. A poeria e a areia que aquele lugar tinha chegava a ser broxante, desanimadora, aparentemente as únicas coisas que eram movidas de lugar era a rede onde o homem provavelmente se deitava e a caneca.
Já são 3 horas da manhã, logo ele chega - Pensou o velho, e sentou-se na beira da janela, a sentir o vento forte e observar o matagal balançar violentamente de um lado para o outro.
E então, por alguns instantes o vento para, o capim não balança, o som do vento não mais incomoda, a chama da ponta da vela gasta não queima mais com tanta intensidade, e um calafrio pode ser sentido, a água não era mais potável, os roedores não queriam mais roer, e o velho, bom, o velho se pôs de pé a observar o acontecimento.
E então, por alguns instantes o vento para, o capim não balança, o som do vento não mais incomoda, a chama da ponta da vela gasta não queima mais com tanta intensidade, e um calafrio pode ser sentido, a água não era mais potável, os roedores não queriam mais roer, e o velho, bom, o velho se pôs de pé a observar o acontecimento.
Algo abre lentamente a sua porta, uma mão branca, tão branca que chegava a ser pálida como de um morto, de unhas grandes, tortas para dentro e pretas, avançam empurrando a porta até que algo precise se abaixar para poder adentrar aquele cômodo, os cabelos pretos bagunçados de sempre, um rosto sem expressão e olhos frios sem sentimentos talvez fitavam o velho, e então, o vento volta a zarpar pelo campo aberto até que atingiu mais uma vez a velha casa e fez com que o roupão de Morpheus cintilasse e quase voasse, mas ele segurava com a ponta dos dedos a sua vestimenta negra, atravessa o quarto passando por baixo da rede e senta na cadeira que já estava a sua espera, e tudo volta ao normal, os roedores voltam a roer o pé da mesa, a água volta ao seu estado normal, mas o velho não se sentia muito bem ali.
- É isso não é velho amigo? Você veio a mim ouvir mais uma história... - Perguntou retoricamente o velho até o sonho, que nada respondeu, e só olhou.
- Pois bem... - E dizia o velho -
" Quando eu vim a este mundo, tive de pecar pela primeira vez antes mesmo de saber o que era respirar e viver, ao sair da minha mãe, em um parto comum, causei nela muita dor, de modo que ela gritava, suava frio e sentia que não estava dando certo, o médico tentou dizer a ela que seria melhor cortar a sua barriga e tentar me retirar assim, mas ela era uma mulher forte, e não quis, dizia ela, que poderia dar errado, chorou de dor, gritou, mordeu um pano e fez força, não para que a dor parasse ou para que eu saísse, fez força para tornar vivo o sonho de ter um filho a quem ela só queria amar.
E ao assim eu nasci, ganhei um nome, e uma casa, um abrigo, e desde quando eu soube o que era viver eu me lembro de ter um irmão, que morava comigo, brincava comigo, e era parte de mim e da minha felicidade.
Logo de manhã eramos um grupo de desbravadores da floresta, a noite eramos cowboys que tentavam laçar os bois, e a noite, eramos heróis que salvavam a mocinha do perigo do vilão... Que era meu pai...
E meu irmão era meu parceiro, meu amigo, meu comparsa, meu cúmplice, meu companheiro, meu confidente, meu irmão. E eu não sabia não viver com ele, eu dormia com ele, eu vivia com ele, e eu era parte do que ele fazia.
Mas a nossa imaginação virou realidade, meu pai era na verdade um político corrupto que foi caçado, e quando descobriram aonde morávamos, vieram atrás dele, mas no caminho, encontraram meu irmão com uma espada de madeira apontada para suas gargantas, tiraram aquela pequena criança do caminho, mas ele queria ser herói, a verdade é que ele era o meu herói, mas ele quis salvar a vida de um civil, até que atirou a espada no olho de um dos moços que vieram linchar o meu pai.
Foi a mais estranha coisa que aconteceu na minha vida, eu poderia jurar que naquela dia eu iria perder o meu irmão, mas a realidade era que, mesmo sendo uma criança, ele era um herói, porque pediu para que fossemos embora, fugidos, enquanto todos se preocupavam com o homem com o olho ferido, corremos pelo fundo da casa, todos nós, os quatro, lembro-me de passar por dentro da minha cozinha enorme e farta de comida a mesa, a noite era escura e a sala de estar estava apagada, meu pai corria atrás guiando-nos com berros e gritos, minha mãe corria ainda mais atrás, puxando meu irmão pelo braço, e eu na frente, acabava de passar pela porta, alta, de ferro, onde eu trombei levemente e tropiquei quase caindo no jardim, mas segui firme, olhei para trás, e tinha a certeza de que estavam todos lá, meu pai, minha mãe, meu irmão.
Abrimos o portão dos fundos, e eu ouvia sem parar os gritos, a verdade é que eles estavam chegando até os fundos da casa, mas meu pai veloz como sempre, abriu o carro e colocou a todos lá dentro, deu partida no carro novo que havia acabado de comprar de forma rápida, saímos, eu olhei apavorado para o meu irmão, e ele estava com uma expressão firme, mão nas costas, e rancor no rosto, assustei-me mas não percebi o prego em suas costas, provavelmente ninguém viu, ele estava atrás e agora sentado, ao passar de carro perto de um homem vi duas coisas de relance, uma foi uma pedra que o civil atirou e passou pelo vidro do carro e acertou o banco da frente do passageiro, minha mãe, que na hora desmaiou, eu gritei, mas gritei mais ainda quando vi que meu pai se desesperou.
Seguimos, um turbilhão de vozes e barulhos, eu não sabia nem o que era ser corrupto direito, não sabia nada sobre aquela profissão, mas a segunda coisa que eu vi, foi chocante e nada eu pronunciei para a minha infelicidade para o resto da vida, a porta do carro do lado de meu irmão estava apenas fechada e não trancada, logo, com tantas curvas do meu desesperado pai, a porta se abriu e ele bravamente se jogou para fora, e ergueu a espada contra a multidão, suas costas feridas, sangrando muito, minha mãe no banco da frente desmaiada, meu pai nervoso.
A ultima visão que tive daquele herói, foi quando a brincadeira tornou-se realidade, ele me olhou e com o dedo indicador a frente dos lábios se virou e ergueu a espada contra a multidão, andando na sua direção.
Eu não acreditei, mas eu sempre soube porque eu não chamei meu pai naquele momento, eu amava o meu irmão, eu amava... Amava tanto que deixei ele lá fora, ainda que meu irmão tivesse apenas 16 anos, eu deixei ele lá, eu era uma criança e não disse nada, me abaixei como meu pai havia mandado e fiquei quieto, chorando.
Ele fora perceber alguns quilômetros depois, mas ainda estávamos correndo perigo, meu pai não retornou por dois motivos:
Meu irmão mais velho não era filho dele.
Ele nunca brincou de ser herói.
Meu pai seguiu."
- E eu amava meu irmão - Disse o velho finalizando.
Morpheus levantou-se, olhou com o canto do olho para o velho e soltando o pó por cima do próprio corpo sumiu, aquele homem sábio sabia, ele sabia o que o sonho precisava ir fazer agora, olhou mais uma vez para o céu daquela noite, notou que agora o céu parecia estar mais estrelado, a lua estava linda, e nada de ventania, e ao deitar na rede para dormir, o velho sussurrou...
- É velho amigo, você precisa fazer algum garoto que perdeu o irmão sonhar com heróis essa noite não é? - E se virou para dormir na rede que balançava.
- É isso não é velho amigo? Você veio a mim ouvir mais uma história... - Perguntou retoricamente o velho até o sonho, que nada respondeu, e só olhou.
- Pois bem... - E dizia o velho -
" Quando eu vim a este mundo, tive de pecar pela primeira vez antes mesmo de saber o que era respirar e viver, ao sair da minha mãe, em um parto comum, causei nela muita dor, de modo que ela gritava, suava frio e sentia que não estava dando certo, o médico tentou dizer a ela que seria melhor cortar a sua barriga e tentar me retirar assim, mas ela era uma mulher forte, e não quis, dizia ela, que poderia dar errado, chorou de dor, gritou, mordeu um pano e fez força, não para que a dor parasse ou para que eu saísse, fez força para tornar vivo o sonho de ter um filho a quem ela só queria amar.
E ao assim eu nasci, ganhei um nome, e uma casa, um abrigo, e desde quando eu soube o que era viver eu me lembro de ter um irmão, que morava comigo, brincava comigo, e era parte de mim e da minha felicidade.
Logo de manhã eramos um grupo de desbravadores da floresta, a noite eramos cowboys que tentavam laçar os bois, e a noite, eramos heróis que salvavam a mocinha do perigo do vilão... Que era meu pai...
E meu irmão era meu parceiro, meu amigo, meu comparsa, meu cúmplice, meu companheiro, meu confidente, meu irmão. E eu não sabia não viver com ele, eu dormia com ele, eu vivia com ele, e eu era parte do que ele fazia.
Mas a nossa imaginação virou realidade, meu pai era na verdade um político corrupto que foi caçado, e quando descobriram aonde morávamos, vieram atrás dele, mas no caminho, encontraram meu irmão com uma espada de madeira apontada para suas gargantas, tiraram aquela pequena criança do caminho, mas ele queria ser herói, a verdade é que ele era o meu herói, mas ele quis salvar a vida de um civil, até que atirou a espada no olho de um dos moços que vieram linchar o meu pai.
Foi a mais estranha coisa que aconteceu na minha vida, eu poderia jurar que naquela dia eu iria perder o meu irmão, mas a realidade era que, mesmo sendo uma criança, ele era um herói, porque pediu para que fossemos embora, fugidos, enquanto todos se preocupavam com o homem com o olho ferido, corremos pelo fundo da casa, todos nós, os quatro, lembro-me de passar por dentro da minha cozinha enorme e farta de comida a mesa, a noite era escura e a sala de estar estava apagada, meu pai corria atrás guiando-nos com berros e gritos, minha mãe corria ainda mais atrás, puxando meu irmão pelo braço, e eu na frente, acabava de passar pela porta, alta, de ferro, onde eu trombei levemente e tropiquei quase caindo no jardim, mas segui firme, olhei para trás, e tinha a certeza de que estavam todos lá, meu pai, minha mãe, meu irmão.
Abrimos o portão dos fundos, e eu ouvia sem parar os gritos, a verdade é que eles estavam chegando até os fundos da casa, mas meu pai veloz como sempre, abriu o carro e colocou a todos lá dentro, deu partida no carro novo que havia acabado de comprar de forma rápida, saímos, eu olhei apavorado para o meu irmão, e ele estava com uma expressão firme, mão nas costas, e rancor no rosto, assustei-me mas não percebi o prego em suas costas, provavelmente ninguém viu, ele estava atrás e agora sentado, ao passar de carro perto de um homem vi duas coisas de relance, uma foi uma pedra que o civil atirou e passou pelo vidro do carro e acertou o banco da frente do passageiro, minha mãe, que na hora desmaiou, eu gritei, mas gritei mais ainda quando vi que meu pai se desesperou.
Seguimos, um turbilhão de vozes e barulhos, eu não sabia nem o que era ser corrupto direito, não sabia nada sobre aquela profissão, mas a segunda coisa que eu vi, foi chocante e nada eu pronunciei para a minha infelicidade para o resto da vida, a porta do carro do lado de meu irmão estava apenas fechada e não trancada, logo, com tantas curvas do meu desesperado pai, a porta se abriu e ele bravamente se jogou para fora, e ergueu a espada contra a multidão, suas costas feridas, sangrando muito, minha mãe no banco da frente desmaiada, meu pai nervoso.
A ultima visão que tive daquele herói, foi quando a brincadeira tornou-se realidade, ele me olhou e com o dedo indicador a frente dos lábios se virou e ergueu a espada contra a multidão, andando na sua direção.
Eu não acreditei, mas eu sempre soube porque eu não chamei meu pai naquele momento, eu amava o meu irmão, eu amava... Amava tanto que deixei ele lá fora, ainda que meu irmão tivesse apenas 16 anos, eu deixei ele lá, eu era uma criança e não disse nada, me abaixei como meu pai havia mandado e fiquei quieto, chorando.
Ele fora perceber alguns quilômetros depois, mas ainda estávamos correndo perigo, meu pai não retornou por dois motivos:
Meu irmão mais velho não era filho dele.
Ele nunca brincou de ser herói.
Meu pai seguiu."
- E eu amava meu irmão - Disse o velho finalizando.
Morpheus levantou-se, olhou com o canto do olho para o velho e soltando o pó por cima do próprio corpo sumiu, aquele homem sábio sabia, ele sabia o que o sonho precisava ir fazer agora, olhou mais uma vez para o céu daquela noite, notou que agora o céu parecia estar mais estrelado, a lua estava linda, e nada de ventania, e ao deitar na rede para dormir, o velho sussurrou...
- É velho amigo, você precisa fazer algum garoto que perdeu o irmão sonhar com heróis essa noite não é? - E se virou para dormir na rede que balançava.
