Justo - Então, passou-se muito tempo. Tanto tempo que já não podia mais olhar para o passado da mesma forma. Envergonhava-me pensar "como pude?", também evitava pensar em "por que precisei?", mas, precisei. Hoje, percebo com pouco mais de tempo que forcei escolhas em mim mesmo que não estava pronto para lidar. Eu não sei lidar. Não há algo de errado em admitir isso. Hoje, o que eu procuro é algo que consiga conter minha loucura, com paz e tranquilidade.
Insano - Momentos de leveza, de contemplação. Risadas infinitas, paixões diárias, não, não são as pessoas que esbarram, é poder notar a vida nas coisas. É conseguir observar a vida em cada flor, em cada móvel da casa, em cada significado, nos animais - em que momento eu haveria de ter perdido isso? Por qual motivo? - é recuperar o motivo da poesia, o peso da mão e do corpo, repensar no próprio rosto.
Quanta responsabilidade é implicada nisso, em cada maior amor. Em cada maior certeza do momento. Como posso ter certeza hoje de algo para além de hoje? Preciso saber de respostas que não sei. Preciso tirar o melhor de mim, mas quero adormecer, lentamente, com paz e tranquilidade. Posso ter um pouco de mim em silêncio?
A maior dificuldade de lidar consigo mesmo é saber, com que parte de mim estou lidando? Com o que sou ou o que quero ser? Tire o melhor daqui, leve para nosso futuro, me diga que lá tudo deu certo, que naquele instante eu posso enlouquecer e ser cuidado, ou, ao menos me diga, vale a pena?
Algo dentro de mim me dá essa certeza, pela bondade dos olhos, pelo tom da voz, por entregar tudo de si e enlouquecer junto de mim. Talvez essa tenha sido a maior demonstração de afeto, alguém que é capaz de sofrer junto. Não posso aliviar sua dor, porque o que te causa dor, traz a felicidade, para ambos. Tudo para ambos, possivelmente na mesma intensidade.
É que me passa pela cabeça que se eu surtar, talvez possa, por instantes, me livrar desse engasgo impaciente e sufocante e partir logo pro resultado. Estou um tanto cansado.
Sim, sei o quanto vale permanecer, o amor é sempre sobre suportar a intensidade do outro... Pois, não só engulo, eu devoro. Porque quero tudo, quero o silêncio, o sorriso, o momento, o abraço, quero estar triste hoje por não ter e em pouco tempo estar feliz, por estar em definitivo, decidido.
Aceito enlouquecer ao lado, terminando de mãos dadas rumo ao imprevisível ou acenando para o delírio.
Justo - Quem quer isso, o eu de agora ou o que eu quero ser? Vale a pena?
Insano - O eu de agora que quer ser algo, ainda que seja louco, vale a pena saber que finalmente consegui reconstruir algo em mim, algo que ficou perdido lá atrás... Minha própria solidão em conjunto. Minha família de dois, que se torna um.
Há algo de bonito na loucura, talvez o fato de poder achá-la em qualquer momento, se perder e não mais poder voltar... Talvez, não voltar seja o segredo de encontrar sentimentos e sensações novas. Pode ser que seja encontrar-se novamente.
