sábado, 24 de março de 2012

Para quem não conhece: Bob



Eu fui criança, eu fui feliz, eu sabia rir, eu sabia chorar, e eu sabia quando era a hora de parar de brincar. Eu corria o tempo todo, eu pulava o tempo todo, eu jogava e eu assistia a televisão também, mas eu fazia tudo isso sozinho, minha familia trabalhava, minha vó cozinhava e meu irmão, meu irmão namorava, não o culpo, tento fazer isso hoje.
 E era meio sozinho que eu fazia a minha vida, e era imaginando as pessoas que eu não tinha, que eu as tinha por perto, eu sempre brinquei de motinha com o meu irmão, eu sempre sentei para contar como foi o dia para a minha mãe, e meu pai sempre me jogava para o alto, e eles faziam isso comigo, mesmo eles não estando lá, eles faziam isso dentro da minha mente.
 Chutei a bola na parede, pensando ser um atacante que fintava o zagueiro e enganava o goleiro, e quando a bola voltava eu era o próprio goleiro que tentava consertar o erro da defesa, e agarrava a bola. E sempre tinha um momento que eu comemorava, como goleiro ou atacante, mas sempre sozinho e imaginando.
 Eu voltava da escola e tinha deveres a fazer, minha mãe me colocava na mesa para resolver, eu pedia a ajuda dela, mas ela não podia ajudar, então eu precisava criar uma mãe para resolver as minhas contas de matemática e me explicar que o Joãozinho, era um menino bonzinho.
 Foi por ser assim, que um dia, um homem bateu no portão da minha casa, e eu chamei minha vó para atender, ela dizia não ver ninguém, e me xingava, falando que eu era muito bobo, mas eu via um homem bonito de chapéu e roupa de cowboy, ele pulou o portão de casa e veio brincar comigo.
 Ele resolvia meus deveres de matemática, jogava futebol no gol e depois na linha, andava de motocicleta e até discussões nós tinhamos, eu sempre apanhava é claro. Mas quando eu chorava, ele vinha pedir desculpas a mim. Quando eu ficava com medo de noite, eu pedia para dormir nos braços dele, como se fosse o meu pai, e ele encarava sempre o escuro, e dizia para mim que lá não tinha nada.
 E assim acontecia a minha vida, brincava com ele, contava para ele como era a minha família, e tirava sarro da vida, porque quem não sabe rir da vida, acaba chorando por ela.
 E no final do dia ele sempre me dava a sua mão e me acompanhava até o portão, me dava um abraço e quando eu estava muito triste ele me dava o seu chapéu para eu cuidar, porque ai eu me sentia um homem e tinha que tomar cuidado, me senti responsável desde que era um menininho.
 No outro dia, era ele me chamando no portão denovo.
 Agora, sabendo da sua história, eu pergunto:
- Quem são vocês, para tirar alguém da minha mente? Para destruir alguém que foi simplesmente tudo o que ninguém pode ser? Quem são vocês, para tirar tudo o que eu sempre tive? E em ultimo lugar, quem são vocês?
 Hoje meu papo com ele, é muito diferente, é mais adolescente, mas ainda assim ele ta aqui, apesar de que os nossos papos tem sido meio diferente.
- Hei cara, acho que eu não sou mais bem-vindo aqui, tão me mandando embora, sei lá o que viram de errado em mim...
 Meus olhos escorriam em lágrimas
- Eu não posso com eles carinha, eles são eles, eu... Só sou o que a nossa mente criou, eu sempre estive lá porque você precisou, mas ta na hora de ir embora.
 Eu não quero que ele vá embora.
- Eu acho que eu vou voltar um dia, quando você não tiver mais ninguém, só espero que eles não te deixem sós, ou chorando por aí, você precisa de alguém para brincar...
 Para que estão fazendo isso comigo? O que eu fiz para merecer isso?
- Fica com o meu chapéu cara, ele é seu.
 Ele ta dando o chapéu para mim, é porque ele não volta.
- Eu odeio essa de se despedir...
 E então ele foi embora, e me deixou aqui, sem imaginação, e chorando.
 Mas agora eu tenho amigos para brincar, agora eu tenho amigos para conversar.
 Obrigado Bob, você foi... insubstituivel.
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 Ai ai... Será que vão deixar eu brincando sozinho denovo?

2 comentários:

  1. Hey Bob...
    Melhor olhar pra trás a partir de agora...

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  2. Não tenho chapéu...mas te dou meu coração...Se eu der ele a você e pedir pela sua amizade, mesmo depois de tudo, mesmo após tanto tempo....você me daria um sorriso?

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