terça-feira, 15 de janeiro de 2013
O velho sábio e suas inacreditáveis histórias IV
Era um dia terrível, complicadíssimo dia de chuva, o céu desabará naquela cidade, lá em cima tudo completamente escuro, dando até a impressão de que o amanhã não viria, que o mundo entraria em um repleto caos a noite, logo antes se perguntavam todos, que noite? Era ainda dia, antes do almoço quando veio a terrível chuva.
Zenobi caminhava tranquilo pela cidade que já suportava água até além dos limites, estava alagando tudo, mas ainda raso, e notou um grupo de crianças brincando na chuva, ainda que fosse chuva, era um bom momento para contar uma história.
Então, Zenobi se juntou aos meninos, e eles logo que avistaram começaram a sorrir e gritar de felicidade:
- É ele, é ele! Ele veio nos contar uma história! - Dizia um deles, Zenobi sorriu, e colocando a mão na cabeça do menor, procurou um muro baixo e subiu em cima, colocou as mãos em um dos colares e olhou aos céus. A chuva cessou. Os meninos olhavam impressionados.
- É bons amigos, estava eu, em casa, esperando que Kastas voltasse de um passeio de carro com seus pais, ansioso para vê-lo, afinal, não era todo dia que nos encontrávamos, e então recebi a notícia de que " Estava Kastas voltando desse passeio e no meio da rodovia aconteceu um acidente, um carro repentinamente virou e por azar acertou o carro de meu amigo, fiquei realmente preocupado, pela velocidade com que o carro estava, deveriam ter morrido todos. Mas não, Kastas estava vivo, fiquei feliz, era meu amigo.
Apesar de ficar vivo, Kastas foi para a UTI e ficou em coma por algum tempo, eu me lembro que ia visitá-lo de dois em dois dias.
Ficava sentado ao lado da sua cama, triste, abalado, chocado, solitário, sozinho, magoado, indignado, e sentia que meu peito parecia estar se rasgando. Seu pai e mãe morreram no acidente, pois o carro que bateu pegou os dois da frente e praticamente arrancou-os, enquanto isso Kastas que estava atrás fora arremessado muito a frente, mas graças a algo, não morreu.
Eu sempre soube que Kastas era o homem mais sonhador do mundo, por isso, se fosse eu naquela cama, ele não desistiria.
Eu não desisti.
Fiquei ao seu lado.
Passaram-se 10 anos.
E Kastas dormia."
- Foi terrível, foram 10 anos, parados na vida. Mas não me arrependo nem por 1 seguno. d
" Um dia, eu percebi que eu era como Kastas, eu parei minha vida por 10 anos por ele, e ele pararia por mim, eu sonhei que ele acordaria todos os dias, e ele sonhou em acordar também. E um dia, eu sonhei que estava sozinho, e Kastas... Kastas sonhou também...
Porém, um sonho, sonhado sozinho, é só um sonho...
Mas quando sonhamos juntos, é um passo para a realidade.
Eu estava lá a noite, ao lado de Kastas, que a essa altura já precisava fazer a barba novamente, eu sempre fiz para ele, mas naquela dia eu estava muito cansado, tinha chegado de um dia complicado de serviço, e deixei-me levar para o mundo dos sonhos, o dia lá fora estava escuro e chovia, mais do que qualquer outro dia, causava quase tempestade.
O som da chuva era tão alto que fazia o silêncio acontecer fora do quarto... Mas espera. A chuva não causa silêncio. Algo tinha feito tudo se calar lá fora, olhei a janela e... A chuva havia parado, não de cair e castigar a terra, mas parado. O tempo parou, olhei assustado para Kastas, e nada. Olhei para a porta, estava entre-aberta, e algo entrou.
Uma mão, branca, como de um morto, os dedos magros e ossudos seguidos por uma unha grande e preta de podre, curvada, seguram na porta. Logo depois, o braço adentrou, pude notar um manto negro velho, e então algo se abaixou e entrou, o cabelo completamente bagunçado, porem liso, sua pele branca me deu uma sensação de sufocamento, de perca de ar, de estar sem espaço, me sentia preso, estavam segurando meu corpo, queria sair dali, estar na presença dele era terrível, me sentia morto, mas obrigado a enxergar aquele ser andando na minha direção, a chuva voltou, a porta estava fechada, mas ele estava dentro.
E então eu entendi, era Morpheus, mas por que o sonho veio me visitar? " - Por que ele te visitou? - Perguntou um dos garotos, o menor, sorri.
- Porque naquele dia, Morpheus percebeu que sonhávamos juntos, e isso era perigoso, ele percebeu que estávamos sonhando, um com o outro, mas nos sentíamos sozinhos. E esse era o perigo, o mais depressivo do mundo, é também o mais sonhador. Morpheus veio aquele dia.
" Ele me olhou, e então, colocou uma máscara em seu rosto, colocou sua mão sobre mim, e eu perdi novamente o ar, olhou para Kastas e quando me dei por conta, estava olhando cada vez mais perto para ele, 1 metro. Colado, olho no olho, dentro do olho, dentro do cérebro, dentro, no sonho.
Lá dentro tudo escuro. E eu vi Morpheus, ele olhava assustado para algo.
O sonho era o seguinte:
Uma roda gigante de fogo, em volta, furacões, e tempestades ácidas por cima, pessoas voando e queimando, sofrendo, chorando e morrendo, pessoas que ele amava, carros batendo, carros voando, tudo quebrando, Zenobi morto no chão, falava e pedia ajuda, sem alma, um espelho, um colar e no meio de tudo isso, Kastas chorava.
Morpheus mesmo dominando os sonhos, ficou parado. Zenobi correu, na verdade voou, carros iam bater nele, mas desviavam, a roda caiaria sobre ele, mas algo a manteve em pé, a tempestade não chegava nele. Um pó amarelo o rondava, e então Zenobi chegou até Kastas, ergueu a cabeça de seu amigo, e lhe deu um abraço como nunca antes tinha dado.
Sonho sorriu.
Kastas acordou.
Zenobi estava dormindo de olho aberto, enquanto chorava.
Kastas chamou Zenobi e ele acordou também, os dois se abraçaram, e mais uma vez, choraram juntos, pois eram amigos, e estavamos felizes um com o outro."
- E foi assim que aconteceu, meu primeiro encontro com sonho, aprendi que, um sonho, sonhado sozinho, é só um sonho. E tomem cuidado, o mais sonhador do mundo, é também o mais triste, sejam sempre amigos uns dos outros. - Em meio a aplausos, Zenobi se levantou e mais uma vez, foi embora.
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Mais depressivo, mais sonhador, conheço alguém assim.
E lembrem-se, um sonho, sonhado sozinho, é só um sonho.
Um sonho, sonhado juntos, é um passo para a realidade
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