Ando de lá pra cá para trazer aos homens comuns a nossa verdade. A verdade que é lindo aos olhos de quem é natural, mas terrivelmente macabra para quem ando torto pelas ruas da grande cidade.
Nesse momento o que eu mais queria era notar alguém levantando a mão e em meio a esse público inteiro, pedir para sentir a dor dos pensamentos.
E no final da história, quando adentrarem esse portal dimensional e notarem que a esse mundo não mais pertencem vai ser tarde demais, vai ser doloroso demais.
O nosso sorriso vem para fazer arder os olhos com uma frieza que os olhos não aguentam observar, e a nossa expressão aqui é sempre a mesma, surpreso por isso?
Mas mesmo tendo anos nessa profissão vim a conhecer um velho garotinho que faria das suas alegrias a sua maior mentira, e ele sorria, sorria tanto que me deixou de lado sem graça.
Era ele largado e bem arrumado, tinha ele dois olhos e aparentava ter mais de mil bocas, fazia parte dele duas mãos que nunca paravam de gesticular e uma só mente, que produzia terrores sem parar.
Acenei para o homem, afim de que viesse o garotinho a minha presença, mas nada disso, surgiu a mim um senhor que mal olhava nos meus olhos, e falava de cabeça baixa, eu lhe perguntava sobre o mundo, sobre os terrores, sobre as verdades e sobre opiniões. E ele arrebatava tudo sem nenhum temor. Me deixava jogado, e deixava as idéias alienadas.
Em momento nenhum aquele velho garoto nos olhava nos olhos, sempre voava pelos céus a aparentemente pegava de lá suas maravilhosas idéias, a mentira dele nos transmutava de lado, de verdadeiros nos primeiramente perdíamos o rumo e depois percebíamos que estávamos mentindo.
E meus parceiros começavam a se perder, e nem mesmo a verdade das nossas histórias bastava, e nem mesmo a nossa criatividade servia de convencimento. Mas eu ainda batia o pé e me dizia ser o melhor que existia, e com a sinceridade eu iria convencer o homem.
Portanto fizemos um duelo e quando eu jogava uma afirmação, recebia uma pergunta, e quando eu jogava a resposta da pergunta ele jogava uma afirmação sobre, e eu nem me lembro mais do que estávamos falando quando eu percebi que na verdade havia mentido várias vezes na ânsia de querer vencer essa disputa.
O velho retira seu óculos, aponta o meu peito e quando levanta a cabeça olha diretamente nos meus olhos. Qualquer homem de verdade se assustaria com o fato de perceber que aquele garoto parecia tão atemporal que na verdade nem olhos ele tinha, e a sua boca nem sequer movia, mas dizia o homem:
- O que é a verdade senão a realidade de cada um? O que seria de nós se a minha verdade fosse também a sua? Seria um mundo de homens iguais ou diferentes? Haveria aqui um mundo?
- O que é a verdade senão a realidade de cada um? O que seria de nós se a minha verdade fosse também a sua? Seria um mundo de homens iguais ou diferentes? Haveria aqui um mundo?
E foi isso, isso que me fez mudar novamente os mundos, mudar novamente os ares, sorrir por outros motivos, mas convencer as pessoas da minha verdade passou a não ser mais um passatempo... Passou a ser... Complicado...

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